Thursday, May 15, 2008

O pedinte que fuma - e depois?

A Morais Soares é a rua mais agitada de Lisboa (de dia). Os passeios não são assim tão estreitos, mas as pessoas andam sempre a fazer figura de Mr. Bean atrás das velhotas, simulando facas para as matar porque andam devagar de mais. Outros passeiam-se em grupos sem reparar se quem vem atrás tem pressa ou não. Outros esperam sem ordem na paragem de autocarro, ocupando mais de metade do passeio. Resumindo, os peões não se compreendem mutuamente. Não há muitos pedintes, mas há pelo menos um de pernas esticadas - uma com coto, outra ainda comprida - que ocupam mais de metade do passeio. As pessoas conhecem-no como a um vizinho: ora ignoram ora cumprimentam. O senhor fuma o seu cigarrinho. Ponto.
Hoje ouvi uma senhora, que não lhe deu nada, dizer-lhe: "o cigarro faz-lhe mal", como quem diz, pois, anda a pedir, mas isso do cigarro não ajuda. Vamos lá ver: o cigarro faz mal a toda a gente. E há outras coisas que fazem mal, como ser paternalista e dizer estas coisas às pessoas, como se fossem crianças, como se não fizessem escolhas. O senhor que pede, vamos lá ver, eu até nem dou (só a quem mostra as suas artes na rua), não o estou a desculpar, mas que raio de autoridade tem a senhora para dizer o que faz mal? Ela sabe lá se ele já fumou 40 cigarros e agora fuma dois? Ela sabe lá se ele fuma dois em vez de tomar dois ansiolíticos por causa dos sonhos com a guerra? Porque é que ela não deixa estas frases para dizer aos seus (amigos, filhos)?
O senhor pedinte, que nos olha como quem nos quer conhecer e passar a dizer bom dia, com um coto na perna esquerda, que escolheu aquela rua para se instalar o dia todo fuma o seu cigarrito - e depois? Vai dizer à polícia?

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