Friday, September 28, 2007

libélula vermelha - contributo

libélula no parque nacional da malásia

se deus existe ele dá mesmo nozes a quem não tem dentes.
assim sendo, pode ser que escreva mesmo a direito por linhas tortas.

Wednesday, September 12, 2007

do coração para cima

o meu pai viu o funeral do Pavarotti na televisão, incitando os demais presentes em casa a ver também.habituada à sua forma de sentir as coisas, não estranhei o ar atento, como quem procura decifrar um anagrama, à procura dos esgares de cada pessoa presente na igreja, quase sentindo como se ali estivesse.

na missa do funeral do Pavarotti, cantada, diga-se de passagem (daí o interesse particular do meu melómano progenitor), os presentes volta e meia batiam palmas prolongadamente, à espera que o artista ouvisse (era bom não era?).

o Pavarotti foi uma vez chamado ao palco cento e trinta e tal vezes depois da actuação, o que se tornou um recorde do Guiness. O Pavarotti, contou o meu pai, cantava de ouvido, não aprendeu música, mexia-se apenas do coração para cima, incluindo, note-se, todos os músculos da cara, em concentração absoluta no seu precioso instrumento (do coração para cima).

quando a sua voz já começava a ser uma sombra do que era nos seus tempos áureos, dedicou-se então a causas que não me atrevo a questionar a partir dos meus cantinhos burgueses (seja da escrivaninha limpa a óleo de cedro, seja do gabinete com net rápida) .

ao gosto das ligações improváveis entre pessoas, entre dos corações para cima, o Pavarotti É amigo do Bono. O Bono, por sua vez - à semelhança do que o cantor lírico representa para o meu pai - cataliza memórias de concertos (vistos e sobretudo não vistos).

resumindo e concluindo, assumindo uma ligação improvável entre estes factos, a voz é uma coisa importante, que no caso do Pavarotti (um brinde em memória) e do Bono (um brinde à sua vida) fica guardada em milhões de cópias.

Wednesday, September 05, 2007

11 de Agosto de 2007,Parque Nacional, Malásia

tudo sobre sanguessugas


a foto não é minha porque estava a chover de mais para tirar fotos. Mas isto é uma sanguessuga pequenina, que não consegue evitar pegar-se às peles dos animais que encontra para poder crescer.

a sanguessuga tem duas bocas - uma em cada extremidade do corpo que é para quando anda (ou melhor, trepa), experimentar chupar o sítio onde se agarou a ver se tem sangue.
Se ela apanha uma bota, trepa até à meia e depois à perna.
Se a pessoa - que pensa ser precavida - leva calças, a sanguessuga trepa até encontrar pele, isto é, até à barriga, se tiver uma daquelas t-shirts de gaja que quando a gente se estica, aparece o umbigo;
até ao sovaco, se a mesma t-shirt de gaja for de alças;
até ao peito, se não levarmos sutiã porque ficou encharcado da caminhada do dia anterior;
até às costas, como já entrou na t-shirt não há nada a fazer;
até ao ninho da orelha, para gáudio dos animais da floresta que eu não vi mas que por lá andavam, pois ouviram uma nova espécie a dar rédeas às cordas vocais como quem quer assustar a menina pegajosa que acabou de achar uma mini-veia dentro da orelha.

as saguessugas, pode-se ver na net, não se devem arrancar da pele. Devem ser afastadas através de, por exemplo, a ponta de um cigarro aceso ou sal. 1. Claro que a malta nas caminhadas está mesmo a pensar levar um cigarrinho e 2. com a chuva que estava a cair era impossível fazer alguma coisa que não fosse andar para a frente para acabar com o trilho de uma vez por todas.