Thursday, December 20, 2007

As intermitênias da morte

Já há mais de cinco anos que não lia um livro de Saramago. Depois do Ensaio da Cegueira, que me pôs num pranto exactamente a meio do livro mas que me trouxe a felicidade de sentir mais enquanto lia, não consegui ler mais nada dele, porque nenhum começo me trazia expectativa de um sentimento semelhante.
O número de páginas (menos de 200) e o título, e a maestrina (como se chama?) a dizer que gostaria de fazer deste livro uma ópera, fizeram-me ler As intermitências da Morte.
Não é sobre a morte, afinal. Até é, mas não como imaginamos pelo título. Mais perto dela do que antes, imaginei que Saramago cairia na tentação de experimentar reflectir sobre a proximidade dos velhos com a morte. Também lá está, mas este livro é sobre a vida e sobre o amor.

Quase no final do livro comecei a ouvir tocar uma música na parte de trás da cabeça. Quando a leitura faz sentir mais, descanso finalmente sobre a impossibilidade de viver tudo. E quando Saramago põe cães nos romances, este sentir está quase garantido. E fico a gostar mais de cães, mesmo com medo.

Thursday, December 13, 2007

para sempre é muito tempo porque soon this place will be too small

deixar qualquer coisa para sempre e guardar qualquer coisa para sempre é muito tempo.
variações:
ser livre para sempre e estar preso para sempre, ser egoísta para sempre e ser altruísta para sempre, ser aluno para sempre e ser professor para sempre, ter uma profissão para sempre e ser desempregado para sempre, ter um amigo para sempre e perder esse amigo para sempre,
sonhar para sempre e ter os pés na terra para sempre - é muito tempo. o tempo é muito mais do que a eternidade. é cada bocadinho. olha agora! não se pode reviver o passado para sempre nem fantasiar com o futuro para sempre. não se pode perder tempo para sempre nem viver cada segundo para sempre. não se pode, enfim, ter certezas para sempre ou duvidar para sempre.