Tuesday, March 04, 2008

pseudo-antropologia da cantina

Quando vou almoçar sozinha, tenho a tendência de olhar para as pessoas lembrando-me do facto de que pertencemos todos à única espécie humana de primatas. Como tal, partilhamos muitas coisas com muitos outros primatas, e diferimos do chimpanzé e do gorila em pequenos (alguns dizem que são grandes) pormenores genéticos. E, como tal, há uma infinidade de gestos que não são senão de tentativas de cativar, de manter a atenção dos insterlucotores, distracções ilustradas com pequenos gestos comuns, indiferença, satisfação, medo, insegurança, desconfiança. e depois há os apaziguamentos (atitudes agonísticas) que fazem manter tantas relações, necessárias para tantas coisas.

Mas aprofundemos a imagem de nós como só mais um primata (esqueçamos a parte homo, façamos de conta que somos qualquer coisa sapiens). Todos as invenções, desde a mesa da cantina com uma grade em baixo para pôr mochilas (que ninguém repara) à verbalização da necessidade de reposição do azeite nas linhas de tabuleiros, são adaptações, nada mais. Tudo para viver um pouco melhor (apesar dos enganos) e todos a viverem uma vida de uma espécie que um dia desaparecerá como já desapareceram tantos primatas (e só sobrou um da espécie homo, fazendo acreditar que somos o último). É impossível abarcar esta perspectiva sem nos afastarmos de tudo o que parte da consciência, ou do pensamento. Mas é possível imaginar, apesar da consciência de cada um, que estamos de fora disto a olhar para uma espécie em vias de extinção. É difícil imaginar, tendo em conta o efectivo real desta espécie. Somos muitos. Mas se andarmos para a frente um bocadinho, só um bocadinho - pode ser 10 mil anos, ou quem sabe nem mil - e se fingirmos que somos doutra espécie, a olhar para esta, é esquisito:

lá está o homem a pavonear-se para a mulher e vice-versa. lá está a mulher a tentar manter uma amizade com um elemento do mesmo género. lá está a criança a chamar a atenção dos pais. lá estão aqueles machos e aquelas fêmeas a disputarem lugares de destaque nos seus diferentes grupos. lá está aquele casal a mostrar que é um casal. lá está alguém, a afastar-se sem coacção de um grupo que já não o vê como alguém do grupo. ou coagido. lá estão aqueles a mostrar a outros o que fazem e como fazem, e os outros que os copiam. lá está, tanta coisa que pode ser só isso, uma função biológica ilustrada de cultura (em dinâmica permanente, em dinâmica permanente, em dinâmica permanente)

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