Thursday, January 17, 2008

Carta de agradecimento a Richard Zimler

Caro Richard Zimler,

Só pelo facto de lhe escrever, sinto-me honrada e meio envergonhada, tendo em conta que o Richard escreve tão bem. Adiante.
Não li todos os seus livros. O primeiro que li foi Goa, ou o Guardião da Aurora, que foi daqueles livros que me dão a sensação de estar a ler o melhor livro do mundo. Quando leio um livro destes não descanso enquanto não consigo encontrar pelo menos mais um leitor, animando-o a ler a fantástica obra que acabei de ler. Assim fiz.
Recentemente li À Procura de Sana, uma história que, inesperadamente, me ajudou a encarar alguns sentimentos que ainda não ousara, desde a morte recente de um amigo. Felizmente tenho a pastelaria Astro perto de mim para matar as saudades (e a gula).
E, um livro depois, doutro autor (que, já agora, e por acaso tem - também - um violoncelista em pano de fundo), li A Sétima Porta. Não costumo ler livros com mais de 400 páginas porque tenho sempre a sensação que não irei chegar ao fim. Mas este livro foi-me oferecido no meu aniversário, por um amigo que já leu todos os seus livros, e a quem acabei de emprestar este último, depois de terminado.
Com A Sétima Porta, reiterei a minha teimosia em não ter lido as “procuras do Santo Graal”, como lhes chamo, que abundam nos mo(n)struários das livrarias. Reiterei ainda, que a leitura pode ser fácil, sem ser light.
Recentemente, numa das conversas de cantina da universidade, uma colega – que admiro – diz, reportando-se ao Richard, que eu elogiava, que “esse é daqueles escritores de best sellers?”, mas disse este termo como se fosse o mesmo que literatura light. Como não sou muito assertiva, não lhe referi algumas das obras literárias mais fantásticas da história que se tornaram best sellers. E, não o fazendo, tive dificuldade em responder-lhe à letra. Disse-lhe que para quem passava muitos dos dias a ler coisas complicadas (como nós, investigadoras em antropologia), era bom encontrar romances como os seus. Disse também outras coisas de que não me lembro.
Bom, queria dizer-lhe isto e enviar-lhe um grande bem-haja o teclado do seu computador ou a sua caneta, ou ambos.
A Sophie é a única personagem central possível na Berlim dos anos 30. Fico com tantas saudades do Hansi, da Vera e do Isaac depois de fechar o livro… Acho que vou oferecer A Sétima Porta, este ano, a todas as pessoas para quem era tão importante ler este livro. Não são alemãs, nem judeus. Só pessoas que sofreram com o cancro dos pais, com a morte de um companheiro, com o olhar desaprovador dos outros. E todas as pessoas que já se esqueceram do que é ser adolescente, e da beleza da sua força (em todas as direcções). E pessoas que amam Berlim e as cidades com histórias fortes, e que sonham desembarcar em Istambul, como eu, e ficar a olhar o Estreito do Bósforo até não aguentar mais.
Felizmente tenho a Igreja da Madalena perto de mim para matar saudades.
Obrigada pel’ A Sétima Porta.

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