Wednesday, March 28, 2007

líderes que chucham no dedo (mesmo)

cantina: 13:00h. há um grupo de raparigas à minha frente. uma delas (a) argumenta com outra (b). c, d e e observam e aprovam os argumentos de a. a é bonita, gesticula largamente e faz caretas agressivas. é claramente a chefe daquele grupo. em breve, b desiste e começa agora a sorrir de forma agonística [sinal de submissão para "acalmar as hostes" posterior à agressão doutro].
noutra fileira de mesas deixei por momentos de observar este espectáculo, para me concentrar no empadão de arroz com (poucos) legumes. mas volto a olhar:
agora a chucha no dedo (!!!!!!!) e faz-se festas em roda do nariz com a mesma mão, como uma criança que vai adormecer, e que não sabe que os seus gestos inatos um dia desaparecerão. depois da refeição, a está simplesmente com sono, e repete o seu gesto inesperado (inúmeras vezes, mesmo depois de eu me beliscar e abrir e fechar os olhos com força) com a mesma segurança de quem fuma um cigarro. b, c, d e e agem como quem já conhece este gesto. cada uma delas tem gestos de sono aceites (bocejam, enrolam caracois no cabelo, esfregam os olhos, sugerem um café). só a líder pode chuchar no dedo.

1 comment:

Zorbas said...

A Antropologia pode ser doentia...
Afinal, também eu costumo observar as pessoas nos transportes públicos, por vezes arrumo ideias na cabeça a olhar para as pessoas da rua. Mas a melhor observação de todas é na praia, aqui saltam à vista as curiosidades humanas (principalmente porque como se usa roupa reduzida, os tiques e as "marcas" sociais são mais evidentes).
Margaret Mead dizia, com muita piada, o sociologo estuda sociologia porque está mal com a sociedade, o psicologo estuda psicologia porque está mal consigo, o antropologo estuda antropologia porque está mal consigo e com a sociedade. eu acho que não se trata de estar mal ou bem com uma disciplina ou uma ideia, mas sim de absoluta, genuína e perturbante curiosidade.
Um abraço felino,
Zorbas