
Friday, May 18, 2007
Monday, April 23, 2007
no pacífico
é tão incerto estares em qualquer lado e no entanto era tão importante que estivesses. vou fazer de conta que atravessas o pacífico numa jangada. demoraste a partir. a âncora talvez estivesse presa. agora está uma data de gente no porto, ainda não atravessaste a linha do horizonte, as pessoas não se vão embora enquanto não atravessares. como não levas remos vens e vais ao sabor das marés, e olhas também o cais. o céu e o mar teimam em rimar com os teus olhos e o sol com o teu cabelo. é claro que vais de azul! no porto formamos uma massa de gente desfocada, acenando ou deixando os braços ao lado do corpo.
Wednesday, March 28, 2007
líderes que chucham no dedo (mesmo)
cantina: 13:00h. há um grupo de raparigas à minha frente. uma delas (a) argumenta com outra (b). c, d e e observam e aprovam os argumentos de a. a é bonita, gesticula largamente e faz caretas agressivas. é claramente a chefe daquele grupo. em breve, b desiste e começa agora a sorrir de forma agonística [sinal de submissão para "acalmar as hostes" posterior à agressão doutro].
noutra fileira de mesas deixei por momentos de observar este espectáculo, para me concentrar no empadão de arroz com (poucos) legumes. mas volto a olhar:
agora a chucha no dedo (!!!!!!!) e faz-se festas em roda do nariz com a mesma mão, como uma criança que vai adormecer, e que não sabe que os seus gestos inatos um dia desaparecerão. depois da refeição, a está simplesmente com sono, e repete o seu gesto inesperado (inúmeras vezes, mesmo depois de eu me beliscar e abrir e fechar os olhos com força) com a mesma segurança de quem fuma um cigarro. b, c, d e e agem como quem já conhece este gesto. cada uma delas tem gestos de sono aceites (bocejam, enrolam caracois no cabelo, esfregam os olhos, sugerem um café). só a líder pode chuchar no dedo.
noutra fileira de mesas deixei por momentos de observar este espectáculo, para me concentrar no empadão de arroz com (poucos) legumes. mas volto a olhar:
agora a chucha no dedo (!!!!!!!) e faz-se festas em roda do nariz com a mesma mão, como uma criança que vai adormecer, e que não sabe que os seus gestos inatos um dia desaparecerão. depois da refeição, a está simplesmente com sono, e repete o seu gesto inesperado (inúmeras vezes, mesmo depois de eu me beliscar e abrir e fechar os olhos com força) com a mesma segurança de quem fuma um cigarro. b, c, d e e agem como quem já conhece este gesto. cada uma delas tem gestos de sono aceites (bocejam, enrolam caracois no cabelo, esfregam os olhos, sugerem um café). só a líder pode chuchar no dedo.
Thursday, March 15, 2007
Era uma vez uma velha muito velha
Pensava que estas pessoas só eram verdadeiras nos contos fantásticos. Era uma velha muito velha a andar muito depressa. Com umas olheiras muito grandes e covadas, como se de cada lado estivesse pendurado um quilo durante muito tempo. E tinha também os beiços caídos, muito caídos, como as olheiras. A sua expressão parecia ter parado num tempo em que ficou triste, muitos anos atrás. Passou por mim na avenida de Berna. Talvez fosse a caminho da ilustração de um livro.
Friday, March 09, 2007
disfarces
Como vivem os que andam sempre disfarçados?
Podemos andar sempre disfarçados?
Como vivem as pessoas com menos disfarces?
Podemos andar sempre disfarçados?
Como vivem as pessoas com menos disfarces?
Friday, February 09, 2007
Em homenagem ao O'Neill, tímido desenfreado, e para os amigos, em homenagem também
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!
"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!
"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
Wednesday, February 07, 2007
SIM
Quando houver um referendo sobre quando começa a vida ou sobre se somos a favor do aborto ou não, logo haverá outra discussão. Como agora o referendo é sobre a despenalização das mulheres que abortam até às 10 semanas, para mim é demasiado evidente.
Porquê?
1. porque sou pela maternidade (e paternidade) responsáveis
2.porque actualmente há clínicas a fechar as suas portas às 19h e a fazer abortos em horário pós-laboral, sem pagar impostos e a receber balúrdios
3. porque a mulher que aborta num estabelecimento legal de saúde tem de certeza mais acesso ao planeamento familiar do que quem aborta clandestinamente
4.porque era escusado tanto aborto cirúrgico. se as mulheres se sentissem mais à vontade para falar com um médico mais cedo...
5. porque actualmente, quando uma mulher aborta por razões naturais, não tem acesso a todos os medicamentos exsitentes, que teria se o aborto estivesse legalizado. e ainda por cima, muitas dessas mulheres são tratadas com desfiança ao chegar ao hospital com sequelas. nos países onde o aborto está legalizado, estã disponíveis determinados princípios químicos que em Portugal não existem devido à criminalização do aborto (a pílula abortiva, segura até às 7 semanas e sem sequelas como aqueles comprimidos para o estômago, o Citotec)
mais razões:
razão cristã: porque não sou ninguém para julgar a outra
razão egoísta: porque pode acontecer-me a mim e não quero que haja a possibilidade de haver um parvalhão qualquer que me faça ir fazer um exame gineclógico à força, depois de abortar, por achar que eu terei feito um crime (é que apesar de não haver mulheres que abortaram na prisão, há dezenas que foram sujeitas a isto antes da "abslvição" no tribunal).
e vou votar porquê?
1. porque sou teimosa em acreditar na democracia e gosto mesmo de votar, desde que tenho direito. imagino sempre quando as mulheres não tinham direito a votar. se vivesse nesse tempo, seria sufragista de certeza.
2. porque participei na recolha de assinaturas para a realização deste segundo referendo. foi uma experiência extraordinária falar com tanta gente na rua, e perceber as diversas vozes e as várias opiniões. e que estranhei ao princípio que há mais gente jovem do que velha, contra.
3. porque gostava que ninguém tivesse de abortar, mas já que acontece, que as mulheres que o fazem, que tenham condições iguais para todas à partida.
Monday, February 05, 2007
optimismo
sempre que vejo uma gaivota em entre campos não sei se hei-de pensar que anda perdida ou que anda em busca. de qualquer forma, é uma esperança de mar. aberto, azul, ruidoso, radioso.
Monday, January 29, 2007
Sari

O sari. O sari é a roupa mais democrática que conheço relativamente à beleza das mulheres. O sari fica bem a todas as mulheres, magras, gordas, altas, baixas, cuzudas e mamalhudas. Dá uma graça especial ao andar. O sari são seis metros de tecido fluído, às vezes algodão, às vezes seda, às vezes acrílico. As modas renovam-se de seis em seis meses. As solteiras não usam praticamente sari. As casadas usam saris coloridos, as viúvas usam saris de cores claras. Ficam sempre graciosas. Velhas, novas, mães, tias, avós, primas e cunhadas. De cabelo curto ou comprido; de narizes grandes ou discretos; de olhos claros ou escuros; com ou sem joanetes; com ou sem pneus; pernas curtas ou de girafa, e por aí fora.
Estender um sari ao sol é como estender um lençol com mais do dobro do comprimento de um lençol normal. E seca num instante. Tem de se ter cuidado para não bater nas janelas do vizinho de baixo, a menos que se queira dizer-lhe alguma coisa. O sari não envelhece como as mulheres que o vestem. Passam as modas e podemos, com ele, fazer capas para almofadas, colchas, estojos, e por aí fora.
O sari, por outro lado, desliza. É sensual. E por aí fora.
Tuesday, January 09, 2007
Friday, January 05, 2007
impressões do ski em catadupa: desafio ultrapassado

os skis são pesados, as botas fazem mal às varizes, os mecanismos de acesso às pistas são terroríficos, a aprendizagem (minha) foi lenta, aos poucos comecei a gostar, depois de muita birra e dores nas pernas e medo das descidas.
e pensar volta e meia que o preço de uma semana dava para estar uma semana em cabo-verde, e que a paisagem dos pirinéus dá vontade de tirar os skis e pôr-me a passear.
talvez volte, talvez volte, vencido o desafio de ultrapassar o medo.
coisas fixes: rir a bandeiras despregadas das minhas próprias quedas; contabilização das nódoas negras; pequenos-almoços enooormes, banhos de imersão todos os dias; encontrar as semelhanças entre a estância de ski e as praias do jet7 e, last but not least, no 5º dia de formação já descia a dizer yuppiiii e não a dizer aaaaahhhhhh
obrigada a quem me levou lá. foi pena não ter nevado
Wednesday, December 20, 2006
segredos
há dias deparei-me com informações que não posso divulgar. foram-me reveladas em entrevista, já em off por casualidade(?), e tinham a ver com pequenos poderes que se relacionam com pouca gente, mas cada pessoa é uma pessoa na minha modesta opinião, e as opções tomadas podem transformar algumas vidas para sempre (ou mantê-las irremediavelmente na mesma).
pronto. e agora que já revelei o mais importante do segredo - a sua substância e não a sua forma (essa é que não dá mesmo), junto-me a uma reflexão sobre os segredos que ouvi ontem pela boca da Pilar (que antes de ser mulher do Saramago já era uma grande mulher, uma grande pessoa, whatever) e que tem a ver com os segredos.
a avó dela dizia, quando uma mulher perde a honra, ganha liberdade. isto era muito à frente para a avó dela dizer, mas pelos vistos disse, e parece-me bem. e isto tem a ver com os segredos, porque os segredos castram a possibilidade de nos livrarmos do que eles ocultam, ou de superarmos o problema que o segredo guarda.
no contexto em que falava, Pilar relacionou com os segredos/não segredos do Volver.
mas no contexto destes dias, apetece-me dizer que enquanto há segredo do Pai Natal para as crianças, vamos atrasando a sua descoberta da vida. de qualquer maneira, mudando de tema, se não fossem as crianças este Natal (e os outros, na verdade) não tinha graça nenhuma.
pronto. e agora que já revelei o mais importante do segredo - a sua substância e não a sua forma (essa é que não dá mesmo), junto-me a uma reflexão sobre os segredos que ouvi ontem pela boca da Pilar (que antes de ser mulher do Saramago já era uma grande mulher, uma grande pessoa, whatever) e que tem a ver com os segredos.
a avó dela dizia, quando uma mulher perde a honra, ganha liberdade. isto era muito à frente para a avó dela dizer, mas pelos vistos disse, e parece-me bem. e isto tem a ver com os segredos, porque os segredos castram a possibilidade de nos livrarmos do que eles ocultam, ou de superarmos o problema que o segredo guarda.
no contexto em que falava, Pilar relacionou com os segredos/não segredos do Volver.
mas no contexto destes dias, apetece-me dizer que enquanto há segredo do Pai Natal para as crianças, vamos atrasando a sua descoberta da vida. de qualquer maneira, mudando de tema, se não fossem as crianças este Natal (e os outros, na verdade) não tinha graça nenhuma.
Wednesday, December 13, 2006
Wednesday, December 06, 2006
144 para quem tem medo de estar em casa
Cada um@ tem o seu medo: medo dos outros automobilistas; medo de atropelar alguém; medo da polícia; medo dos ladrões; medo dos terramotos; medo dos incêndios; medo dos cães; medo das aranhas; medos sociais como estar no meio de demasiada gente; medo de encarar determinadas pessoas; medo de não ter dinheiro para pagar as contas; medo de engravidar; medo de adoecer; medo da morte; medo de levar um tiro;
mas... medo de estar em casa?
isto é a propósito - tardio - do dia 25 de Novembro, que é dia nacional de luta contra a violência e porque todo/as, quase de certeza, conhecemos alguém, homem ou mulher, vítima de violência doméstica (estima-se que 1/3 das mulheres são vítimas de violência doméstica e não se sabe que percentagem de homens serão vítimas do mesmo)
mas... medo de estar em casa?
isto é a propósito - tardio - do dia 25 de Novembro, que é dia nacional de luta contra a violência e porque todo/as, quase de certeza, conhecemos alguém, homem ou mulher, vítima de violência doméstica (estima-se que 1/3 das mulheres são vítimas de violência doméstica e não se sabe que percentagem de homens serão vítimas do mesmo)
Monday, December 04, 2006
não há nada como a banda

A banda
Chico Buarque 1966
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Pra ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Monday, November 27, 2006
Lençóis brancos
Gostava de te dizer as palavras certas
(como se houvesse uma única a fazer sentido agora)
Gostava de te deixar em paz
Sem que ficasses só
Gostava de to trazer de volta
Gostava tanto!
Vento, vento, mais vento
E chuva, mais chuva.
Nem o vento leva daqui o pranto
Nem a chuva lava-te aqui a cara.
Dizem-te que o tempo secará as lágrimas
(como se elas estivessem penduradas na corda da roupa!)
Mentem-te!
Nem o tempo, nem o vento.
Mas talvez cada dia procurar
Algo bom do passado
E algo bom no futuro.
E talvez cada dia com gestos iguais…
(Se suspirares entretanto, é a saudade;
Se soluçares, é do ar que retiveste por tanto amar.
Não te rales com suspiros e soluços
Olha os fantasmas com espanto:
Eles poderão trazer-te paz.
Basta sorrir-lhes. Depois de lhes falares
Sem medo, eles voltarão à sua vida
Como lençóis brancos a esvoaçar)
(como se houvesse uma única a fazer sentido agora)
Gostava de te deixar em paz
Sem que ficasses só
Gostava de to trazer de volta
Gostava tanto!
Vento, vento, mais vento
E chuva, mais chuva.
Nem o vento leva daqui o pranto
Nem a chuva lava-te aqui a cara.
Dizem-te que o tempo secará as lágrimas
(como se elas estivessem penduradas na corda da roupa!)
Mentem-te!
Nem o tempo, nem o vento.
Mas talvez cada dia procurar
Algo bom do passado
E algo bom no futuro.
E talvez cada dia com gestos iguais…
(Se suspirares entretanto, é a saudade;
Se soluçares, é do ar que retiveste por tanto amar.
Não te rales com suspiros e soluços
Olha os fantasmas com espanto:
Eles poderão trazer-te paz.
Basta sorrir-lhes. Depois de lhes falares
Sem medo, eles voltarão à sua vida
Como lençóis brancos a esvoaçar)
Wednesday, November 22, 2006
a inutilidade da antecipação
ontem, no telejornal havia uma reportagem sobre a ansiedade. não gostei nada, mas ainda assim fiquei a pensar. sempre quis controlar tudo, não de uma forma objectiva, mas por via de superstições meio veladas. antecipar para que não acontecesse ou pelo menos para estar preparada para todas as situações. afinal não resulta (como percebi depois de atender o telefone há 3 semanas atrás). a antecipação é a arrogância de achar que se possui uma qualquer força divina e a sua inutilidade ainda não tem alternativa.
Tuesday, November 14, 2006
feia e mentirosa
a morte, além de ser uma palavra feia, engana-nos. veste-se de surpresa, para dar um ar supersticioso, ou veste-se de lentidão, para dar um ar antigo. a morte é feia e mentirosa. não tem graça absolutamente nenhuma. as suas constantes surpresas são piadas de mau gosto.
a morte devia estar calada quando as pessoas realizam sonhos. respeitar o sonho era mínimo que a morte podia fazer.
a morte mente porque parece querer ensinar alguma coisa, tipo 'dar mais atenção às pequenas coisas da vida', mas no fundo não ensina nada.
a morte gera rancor, descrença, raiva. é preciso um esforço enorme para transformar a raiva, a descrença e o rancor em coisas menos más. e esse esforço enorme envelhece. a morte é cabrona de merda
a morte devia estar calada quando as pessoas realizam sonhos. respeitar o sonho era mínimo que a morte podia fazer.
a morte mente porque parece querer ensinar alguma coisa, tipo 'dar mais atenção às pequenas coisas da vida', mas no fundo não ensina nada.
a morte gera rancor, descrença, raiva. é preciso um esforço enorme para transformar a raiva, a descrença e o rancor em coisas menos más. e esse esforço enorme envelhece. a morte é cabrona de merda
Wednesday, November 08, 2006
da roca a são vicente
Foram daquele tipo de sucessão de dias que dá vontade de dizer foram os melhores dias da minha vida. Felizmente o hábito de desfrutar da vida e dos espaços que podemos conhecer faz-me ter várias sucessões de dias melhores da vida. Há outros. Apetece-me recordar estes. Foram os primeiros dias de Setembro de 1993. Organizou-se uma actividade de escoteiros para unir, pedalando, o Cabo da Roca ao Cabo de São Vicente. Calcorreámos a costa alentejana, mais perto do mar, na areia molhada, ou em cima das arribas, perto dos chorões e do zimbro. Custava pedalar cerca de 60 kms por dia. Esperávamos pelas estradas ladeadas de eucaliptos para pôr os pneus a render. Levantávamo-nos tarde. Comíamos cada um meio pão alentejano e meio litro de leite. Manteiga ou flora, marmelada. Almoçávamos às 5 da tarde, pelo que pedalávamos inconscientemente na hora do calor. Depois jantávamos a maior parte das vezes já depois da meia noite. Uma vez, ao pé da Zambujeira do Mar, comemos soja com esparguete. Tínhamos andado de porta em porta a pedir condimentos para temperar a insípida soja e esperámos até tarde para cozinhá-la. Acampámos no pinhal, dormindo em estrela à volta da comida que, depois de feita, estava uma verdadeira merda. De manhã, só o Bruno comeu um pouco dos muitos restos do jantar.
Lembro-me dos rapazes hesitarem para ir ao banho, nas praias mais lindas da costa alentejana. As raparigas, quais lontras, aproveitávamos logo a deixa do belo: as conchas, o sol a pôr-se, os cristais de areia ao luar. Eles também eram sensíveis a isso, mas fingiam que não. ou disfarçavam melhor.
Cantávamos o que nos vinha à cabeça. Íamos a ritmos diferentes. Quando os
últimos chegavam ao pé dos primeiros, a impaciência fazia retomar de seguida os pedais. Ficávamos amuados, a brincar. Passava rápido.
Ao chegar a São Vicente, havia uma estrada de terra batida, aos altos e baixos muito acentuados, como a vida. O Bruno ganhou um último impulso e pedalou mais depressa, quase saltando as lombas. São estas pequenas coisas que vão começando a fazer-me voltar a sorrir.
Lembro-me dos rapazes hesitarem para ir ao banho, nas praias mais lindas da costa alentejana. As raparigas, quais lontras, aproveitávamos logo a deixa do belo: as conchas, o sol a pôr-se, os cristais de areia ao luar. Eles também eram sensíveis a isso, mas fingiam que não. ou disfarçavam melhor.
Cantávamos o que nos vinha à cabeça. Íamos a ritmos diferentes. Quando os
últimos chegavam ao pé dos primeiros, a impaciência fazia retomar de seguida os pedais. Ficávamos amuados, a brincar. Passava rápido.
Ao chegar a São Vicente, havia uma estrada de terra batida, aos altos e baixos muito acentuados, como a vida. O Bruno ganhou um último impulso e pedalou mais depressa, quase saltando as lombas. São estas pequenas coisas que vão começando a fazer-me voltar a sorrir.
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