Tuesday, March 18, 2008

shatush


este é o blog da minha tia ana,
que faz uns caxecois e luvas
e abat-jours e colares, e outras coisas,
tudo lindo

Monday, March 17, 2008

engraçado, o meu pai também me disse uma coisa parecida

"(...) Todos os grandes compositores estão a dizer-nos com os seus acordes e melodias - e até nos silêncios entre as notas - que a vida é longa, mas não tão longa como nós julgamos ao princípio. E que também vai ser muito mais dura do que alguma vez imaginámos; por isso, devemos criar toda a beleza de que formos capazes enquanto cá estivermos e ajudar todas as pessoas a quem amamos a fazer a mesma coisa. Também devemos ouvir-nos uns aos outros da mesma forma como os ouvimos a eles - e isso é muito, muito importante. E devemos ter a coragem de lutar contra tudo que comprometa a nossa própria beleza ou que, de alfguma maneira, a possa prejudicar. Todos os compositores verdadeiramente grandes estão a preparar-nos para vivermos correctamente e a dar-nos coragem para seguirmos com as nossas vidas o melhor que pudermos, mesmo que tenhamos cometido os erros mais imperdoáveis (...)"
Do Meia-noite ou o princípio do mundo (p.533), do Zimler
(fim de ciclo)

Att:
1) beleza, leia-se arte ou criatividade
2) grandes compositores - incluam-se os actuais

Friday, March 14, 2008

não esquecer

comparar infelicidades é um exercício inútil

Wednesday, March 12, 2008

(e é outras coisas também)

mas a luísa não vai, porque uma cidade é uma cidade. não é um coração à espera. quando muito, uma cidade é um coração que (des)espera.

Tuesday, March 11, 2008

carta para a luisa (ficção sobre o que eu gostava que fosse)


luísa,

não hesites. viaja até à terra para onde ele fugiu quando achou que era agora ou nunca. vai lá, diz-lhe poucas e boas, desta vez cara a cara. diz-lhe como deixarias tudo para estares com ele de novo; não tenhas medo - ele é que vai ter medo. mas dá-lhe as cartas todas, desta vez em mão.

vai, e quando ele abrir a porta beija-o na boca e deixa-o de rastos. não te importes com os "casos" dele, isso não é nada comparado com a espera que ele tem aguentado. é isso que ele espera de ti. e tu, o que esperas? vai e fá-lo perceber o que perdeu ele este tempo todo. os teus olhos, sobretudo, foi o que ele perdeu. porque se ele visse os teus olhos quando falas dele, podia perceber que a língua em que ele fala agora não tem palavras suficientes para explicar o que é difícil.

(roubei a imagem do google, claro)

Monday, March 10, 2008

www.phdcomics.com*

*graças à ana claudia, que me indicou este site, posso rir-me de mim mais vezes. não que eu perceba esta equação, longe de mim, mas para a imagem ainda lá chego

Friday, March 07, 2008

nunca mais o para sempre e o nunca mais

contra as palavras infinitas, uma apologia das palavras do zero. também é radical, mas é um bom princípio, para que as palavras dos números pequenos surjam naturalmente, aos poucos, sem desejos de infinito.

agora, nunca digas nunca tem um novo sentido: não é só que é mais provável que venhamos a fazer algo que dissemos um dia que nunca viríamos a fazer;
nunca digas nunca é uma cautela, contra a vertigem do definitivo. (a queda é grande). não digas nunca, porque estás a alimentar projectos de eternidade, para nunca e sempre mais.

para o dicionário das palavras do zero, começo por começo, ainda, e passo. (Porque) começar é a possibilidade, ainda é ainda ser possível, e passo é um de cada vez, como os dias.

Thursday, March 06, 2008

a locomoção

é bom que o único primata homo à face da terra seja sapiens, e tenha boas ideias como as muletas. e que não despreze os outros elementos que não podem mover-se como os demais, ao ter inventado a fisioterapia e as relações de amizade. gosto de ser sapiens. embora às vezes não me sinta sapiens sapiens. agora estou sapiens "lens"
:-)

Tuesday, March 04, 2008

Escultora: Gertrude Alice Meredith


pseudo-antropologia da cantina

Quando vou almoçar sozinha, tenho a tendência de olhar para as pessoas lembrando-me do facto de que pertencemos todos à única espécie humana de primatas. Como tal, partilhamos muitas coisas com muitos outros primatas, e diferimos do chimpanzé e do gorila em pequenos (alguns dizem que são grandes) pormenores genéticos. E, como tal, há uma infinidade de gestos que não são senão de tentativas de cativar, de manter a atenção dos insterlucotores, distracções ilustradas com pequenos gestos comuns, indiferença, satisfação, medo, insegurança, desconfiança. e depois há os apaziguamentos (atitudes agonísticas) que fazem manter tantas relações, necessárias para tantas coisas.

Mas aprofundemos a imagem de nós como só mais um primata (esqueçamos a parte homo, façamos de conta que somos qualquer coisa sapiens). Todos as invenções, desde a mesa da cantina com uma grade em baixo para pôr mochilas (que ninguém repara) à verbalização da necessidade de reposição do azeite nas linhas de tabuleiros, são adaptações, nada mais. Tudo para viver um pouco melhor (apesar dos enganos) e todos a viverem uma vida de uma espécie que um dia desaparecerá como já desapareceram tantos primatas (e só sobrou um da espécie homo, fazendo acreditar que somos o último). É impossível abarcar esta perspectiva sem nos afastarmos de tudo o que parte da consciência, ou do pensamento. Mas é possível imaginar, apesar da consciência de cada um, que estamos de fora disto a olhar para uma espécie em vias de extinção. É difícil imaginar, tendo em conta o efectivo real desta espécie. Somos muitos. Mas se andarmos para a frente um bocadinho, só um bocadinho - pode ser 10 mil anos, ou quem sabe nem mil - e se fingirmos que somos doutra espécie, a olhar para esta, é esquisito:

lá está o homem a pavonear-se para a mulher e vice-versa. lá está a mulher a tentar manter uma amizade com um elemento do mesmo género. lá está a criança a chamar a atenção dos pais. lá estão aqueles machos e aquelas fêmeas a disputarem lugares de destaque nos seus diferentes grupos. lá está aquele casal a mostrar que é um casal. lá está alguém, a afastar-se sem coacção de um grupo que já não o vê como alguém do grupo. ou coagido. lá estão aqueles a mostrar a outros o que fazem e como fazem, e os outros que os copiam. lá está, tanta coisa que pode ser só isso, uma função biológica ilustrada de cultura (em dinâmica permanente, em dinâmica permanente, em dinâmica permanente)

Monday, March 03, 2008

Os barulhinhos da cafeteira italiana

Estava a tomar o pequeno-almoço quando a minha máquina de café começa a fazer um som, sozinha, já depois de verter o café na chávena. Tipo a pingar. Desmanchei as três partes, tirei as borras do café ainda a ferver para o lixo, despejei a água que ficara no reservatório (em excesso, porque tem andado a funcionar mal), e deixei-a a pousar no lava-louças, desmembrada. E não é que, voltando a sentar-me e a tentar ler o pouco que conseguira ainda do jornal, a máquina volta a fazer o som? "A minha máquina de café não está boa da cabela", disse, alto, felizmente sem ninguém para ouvir. Fui outra vez ao lava-louças, separei mais as partes da máquina. Era óbvio agora que o som vinha daquela parte da máquina onde se põe o café, tornando óbvio também que a parte que não estava a funcionar bem, e que por isso só faz metade do café que é suposto fazer. Tentei, então, enquadrar este acontecimento (em silêncio, pelo sim, pelo não):

(1) a máquina de café italiana do IKEA faz parte do sindicato das máquinas de café e ficou chateada por eu andar a dizer mal da Nespresso, uma sua companheira.
(2) ou então, se bem me lembro a máquina deixou de funcionar quando se acabou o café do Comércio Justo e fui comprar café capitalista. A minha máquina é solidária!

Quando a máquina deixou de funcionar bem, troquei-lhe a borracha, que o IKEA fornece em duplicado. Fiz um "circuito" só com água (sem café) e funcionou bem. Mas com o café, não faz mais do que metade. Tentei desentupir o que poderia ser entupível (diz-se?), confirmei que saía água de todos os buraquinhos da parte do reservatório que parece um chuveiro, voltei a fazer "circuitos" só com água - impecavelzinha, como diria a minha ex-sogra - e o café continuou a subir só pela metade. Agora, depois dos barulhinhos e da personificação definitiva da máquina de café*, agora já percebi - a máquina percebe-me. Ela sabe que eu só devo beber meia cafeteira, que o café em excesso faz-me mal.

E agora já percebi porque se guardam as cafeteiras italianas nos armários quando deixam de funcionar. Mas se a guardar, desculpa lá cafeteira, mas não vou comprar uma Nespresso, embora prometa que não volto a dizer mal. Eu gosto de moer o café e do som do "circuito" do café.

*seguindo a sugestão de personificação de uma caixa esburacada deixada no lixo, por Gonçalo M. Tavares, última Visão (28.02.2008)

Tuesday, February 19, 2008

barrancos 1991

o passado é um país estrangeiro, disse alguém com grande sabedoria. visitar o passado nem sempre é mau. parece haver uma mania anti-nostálgica... é verdade que não regressar desse país é demais - como é demais imaginar muito o futuro.
finalmente dei-me um visto no passaporte para visitar esse país. lá, ando de terra em terra em poucos segundos.

há 17 anos fiz o meu primeiro mini-trabalho de campo etnográfico. em barrancos. estava apaixonada, por isso não me lembro do frio. o sting tinha editado um album a solo, que eu ouvia sistematicamente - fields of barley era o que tinha pela frente, enquanto apanhava vento numa boleia de pick up da amareleja para barrancos. levávamos dois rolos de fotos a preto e branco e um a cores. os a preto e branco foram à vida. a meio dos três curtos dias, vieram ter connosco dois amigos que iam fazer rapel pró castelo de noudar. só visto. nós não vimos, porque estávamos a entrevistar alguém. eles deixaram-nos um recado malicioso junto dos sacos-cama, como quem diz, "pois, pois, trabalho de campo e tal...", um papel cheio de desenhos e indirectas. onde está? para que saibam, era só mesmo trabalho de campo
(mas tanto o trabalho como as noites em directa a ouvir o meu parceiro dormir tornarar-se-iam pequenas regiões do passado para visitar com calma)

ao terceiro dia, levaram-me um pão doce para o pequeno-almoço, mas dali a meia-hora estávamos a re-experimentar a hospitalidade dos barranquenhos com uma mine matutina. nos dias anteriores, levaram-nos de pick up a todo o lado - aos fornos de tijolo, de carvão, de cal; à pedreira de xisto rosa; às obras em casas que levavam o precioso xisto. mostrávamos as nossas filmagens nos bombeiros, que nos tinham dado guarida. vimos montanhas de azeitonas por comer, soubemos de histórias locais, contaram-nos sobre os touros, mostrando a praça quadrada, e sobre passar a fronteira a salto com café às costas.

é bom poder visitar esse país, repescar as sensações, os cheiros (estevas!), mesmo sem fotos a preto e branco.

Friday, February 15, 2008

o mel é a luz do sol materializada*


*esta ideia está no Meia-noite ou o princípio do mundo, do Zimler (sim, ainda não enjoei)

Thursday, February 07, 2008

ode ao sol e ao sal

provérbio: "nada mais é útil do que o sal e o sol"
alguém me disse um dia: comer uma rodela de ananás é como comer uma fatia de sol
e agora lembrei-me, o sal é um sinal de mar e do mar

Tuesday, January 29, 2008

vuit, vuiuu

já não bastava a poluição sonora comum (ordinária em ambos os sentidos), agora temos poluição sonora extraordinária (em ambos os sentidos também) de 20 em 20 segundos, em qualquer anúncio da sagres perto de ti.

Friday, January 25, 2008

Queridas vacas açoreanas,

Lamento muito que tenham obrigado metade de vós a deixar de produzir o vosso maravilhoso leite há uns anos atrás. Parece que a Europa andava a produzir muito leite e decidiram que vocês ficavam melhor na paisagem do que com dispositivos sugadores de leite. Em parte até é verdade. Mas afinal a Europa não produziu assim tanto leite e agora o leite vai aumentar outra vez (parece que há outras razões, mas essas não compreendo porque - acho que - fazem de propósito para manter algumas linguagens muito distantes da compreensão dos comuns mortais).

ps: gozem as paisagens por mim e evitem os matadouros - diz que é pior do que dar vazão ao leite. por mim, vou comprar uma palete de leite antes do 1 de fevereiro, dia em que o leite aumenta 10 cêntimos...

Friday, January 18, 2008


O Zimler respondeu-me! Afinal há pessoas conhecidas que lêem emails grandes dos seus admiradores. Foi muito simpático!

Vou comemorar na Astro e passar à beira da Igreja da Madalena, a Sétima Porta de uma certa Cabala...

Thursday, January 17, 2008

Carta de agradecimento a Richard Zimler

Caro Richard Zimler,

Só pelo facto de lhe escrever, sinto-me honrada e meio envergonhada, tendo em conta que o Richard escreve tão bem. Adiante.
Não li todos os seus livros. O primeiro que li foi Goa, ou o Guardião da Aurora, que foi daqueles livros que me dão a sensação de estar a ler o melhor livro do mundo. Quando leio um livro destes não descanso enquanto não consigo encontrar pelo menos mais um leitor, animando-o a ler a fantástica obra que acabei de ler. Assim fiz.
Recentemente li À Procura de Sana, uma história que, inesperadamente, me ajudou a encarar alguns sentimentos que ainda não ousara, desde a morte recente de um amigo. Felizmente tenho a pastelaria Astro perto de mim para matar as saudades (e a gula).
E, um livro depois, doutro autor (que, já agora, e por acaso tem - também - um violoncelista em pano de fundo), li A Sétima Porta. Não costumo ler livros com mais de 400 páginas porque tenho sempre a sensação que não irei chegar ao fim. Mas este livro foi-me oferecido no meu aniversário, por um amigo que já leu todos os seus livros, e a quem acabei de emprestar este último, depois de terminado.
Com A Sétima Porta, reiterei a minha teimosia em não ter lido as “procuras do Santo Graal”, como lhes chamo, que abundam nos mo(n)struários das livrarias. Reiterei ainda, que a leitura pode ser fácil, sem ser light.
Recentemente, numa das conversas de cantina da universidade, uma colega – que admiro – diz, reportando-se ao Richard, que eu elogiava, que “esse é daqueles escritores de best sellers?”, mas disse este termo como se fosse o mesmo que literatura light. Como não sou muito assertiva, não lhe referi algumas das obras literárias mais fantásticas da história que se tornaram best sellers. E, não o fazendo, tive dificuldade em responder-lhe à letra. Disse-lhe que para quem passava muitos dos dias a ler coisas complicadas (como nós, investigadoras em antropologia), era bom encontrar romances como os seus. Disse também outras coisas de que não me lembro.
Bom, queria dizer-lhe isto e enviar-lhe um grande bem-haja o teclado do seu computador ou a sua caneta, ou ambos.
A Sophie é a única personagem central possível na Berlim dos anos 30. Fico com tantas saudades do Hansi, da Vera e do Isaac depois de fechar o livro… Acho que vou oferecer A Sétima Porta, este ano, a todas as pessoas para quem era tão importante ler este livro. Não são alemãs, nem judeus. Só pessoas que sofreram com o cancro dos pais, com a morte de um companheiro, com o olhar desaprovador dos outros. E todas as pessoas que já se esqueceram do que é ser adolescente, e da beleza da sua força (em todas as direcções). E pessoas que amam Berlim e as cidades com histórias fortes, e que sonham desembarcar em Istambul, como eu, e ficar a olhar o Estreito do Bósforo até não aguentar mais.
Felizmente tenho a Igreja da Madalena perto de mim para matar saudades.
Obrigada pel’ A Sétima Porta.

Monday, January 14, 2008

Rilke, transcrito por Zimler, na Sétima Porta

Todas as coisas são os corpos dos violinos, cheios de uma escuridão murmurante;
lá dentro há sonhos das lágrimas das mulheres, lá dentro remexe, enquanto dorme,
o ressentimento de gerações inteiras...
Eu espalharei prata: e então, tudo o que está sob mim passará a ter vida,
e aquilo que nas coisas erra [,] lutará, procurando a luz...

Este é um poema de R.M.Rilke, n'A Sétima Porta, o maravilhoso livro de Zimler sobre os anos 30 em Berlim, onde se descobre a história da personagem central, e narradora, uma adolescente lutadora (só uma adolescente lutadora sem noção de algumas coisas mas com tanta noção de outras poderia ter tanta força e poderia ser tão credível na sua força para aquela fase de Berlim...)

É mais um testemunho de que a liberdade de pensamento é a mais importante - tanto na história que é contada como na forma como é descrita.

Thursday, December 20, 2007

As intermitênias da morte

Já há mais de cinco anos que não lia um livro de Saramago. Depois do Ensaio da Cegueira, que me pôs num pranto exactamente a meio do livro mas que me trouxe a felicidade de sentir mais enquanto lia, não consegui ler mais nada dele, porque nenhum começo me trazia expectativa de um sentimento semelhante.
O número de páginas (menos de 200) e o título, e a maestrina (como se chama?) a dizer que gostaria de fazer deste livro uma ópera, fizeram-me ler As intermitências da Morte.
Não é sobre a morte, afinal. Até é, mas não como imaginamos pelo título. Mais perto dela do que antes, imaginei que Saramago cairia na tentação de experimentar reflectir sobre a proximidade dos velhos com a morte. Também lá está, mas este livro é sobre a vida e sobre o amor.

Quase no final do livro comecei a ouvir tocar uma música na parte de trás da cabeça. Quando a leitura faz sentir mais, descanso finalmente sobre a impossibilidade de viver tudo. E quando Saramago põe cães nos romances, este sentir está quase garantido. E fico a gostar mais de cães, mesmo com medo.

Thursday, December 13, 2007

para sempre é muito tempo porque soon this place will be too small

deixar qualquer coisa para sempre e guardar qualquer coisa para sempre é muito tempo.
variações:
ser livre para sempre e estar preso para sempre, ser egoísta para sempre e ser altruísta para sempre, ser aluno para sempre e ser professor para sempre, ter uma profissão para sempre e ser desempregado para sempre, ter um amigo para sempre e perder esse amigo para sempre,
sonhar para sempre e ter os pés na terra para sempre - é muito tempo. o tempo é muito mais do que a eternidade. é cada bocadinho. olha agora! não se pode reviver o passado para sempre nem fantasiar com o futuro para sempre. não se pode perder tempo para sempre nem viver cada segundo para sempre. não se pode, enfim, ter certezas para sempre ou duvidar para sempre.

Friday, November 30, 2007

a sophia veio ao mundo para eu ter como rezar*

Eu chamei-te para ser a torre
Que viste um dia branca ao pé do mar.
Chamei-te para me perder nos teus caminhos.
Chamei-te para sonhar o que sonhaste.
Chamei-te para não ser eu:
Pedi-te que apagasses
A torre que eu fui a minha vida os sonhos que sonhei.


*porque os poetas vêm ao mundo para os ateus terem como rezar.

Wednesday, November 28, 2007

irrito-me com...

... a malta na biblioteca a falar ao lado dos anúncios colados na parede a dizer silêncio. distraem-me para aqui, por exemplo, em vez de para ali, os meus documentos com suas pastas e respectivas resmas de papel por preencher

Friday, November 23, 2007

ainda bem que não gosto assim tanto de cerveja

a palavra orgulho é utilizada versus vergonha e é por isso que se fala em orgulho gay (para que os que estão no armário tenham onde ir buscar forças para dele sair - divagação minha). por isso, orgulho hetero não faz sentido utilizar numa campanha publicitária - a da Tagus. uma pessoa hetero pode ter muito orgulho em sê-lo, mas a utilização do termo orgulho (de pride) não deve esquecer o seu contexto.

instituto de higiene e medicina tropical (ihmt)

antes de viajar no verão passado fui atempadamente ao instituto de higiene e medicina tropical "levar" duas vacinas. mas não havia a vacina da febre tifóide (numa altura cheia de gente a querer "levar" essa vacina) nem estava em lado nenhum uma informação a dizer da falta da vacina. por isso os ansiosos pré-viajantes esperaram, como eu, quase duas horas para saber que não iam "levar" a vacina.
e pimbas, depois de me chatear ao vivo, fui ao livro de reclamações.
ontem liga-me um senhor do ihmt, que estava a redigir a carta de resposta à minha reclamação. e, disse ele, reparei que a sua reclamação se referia a julho e não a setembro.
?
pois, porque em setembro houve uma ruptura de stock, mas em julho não.
em seguida, o senhor passou o resto do telefonema a desabafar comigo, sobre como já tinha dito tantas vezes ao director de serviços que esta é uma situação lamentável, que cada vez há mais pessoas que precisam das vacinas para viajar, e parecem haver por aí umas orelhas moucas à procura crescente da tifóide.
isto tudo como quem diz, eu já disse mas não me ligaram nenhuma e é bem feita que pessoas como a senhora reclamem. obrigado, disse ele, e eu, disponha.

Tuesday, November 20, 2007

com esta chuva já andam os jacarandás a perder as folhas, mas serão os primeiros a florir, isso é certinho como esta cidade se chamar lisboa.

Friday, November 16, 2007

olhos nos olhos (dia 4 novembro 2007)

"Já que temos que gramar com a globalização económica, ao menos que tenhamos o prazer da globalização cultural"
Maria do Céu Guerra, actriz, a propósito dos contributos dos imigrantes na sociedade portuguesa

Friday, November 09, 2007

Ano novo vida nova

(saquei esta foto do google pictures)
Hoje é o último dia do ano hindu. É o dia de divali, a festa das luzes, às vezes comparada ao natal cristão. Neste dia comemora-se a chegada a casa de Rama após 14 anos de exílio. Nesta noite acendem-se pequenas lamparinas para guiá-lo até casa, nesta que é a noite mais escura do ano (hoje é também lua nova).

Amanhã começa um novo ano. Pintam-se à entrada das casas tapetes de boas-vindas com motivos religiosos, de forma bastante colorida. Também os templos e as casas são pintadas nesta altura do ano que, na Índia, corresponde à época do ano pós-monções. Uma grande variedade de doces é exposta nos templos e os vizinhos trocam doces confeccionados em casa ou comprados na rua. Recentemente há também prendas para as crianças.

Wednesday, November 07, 2007

para a laura e para o joão (recentemente embarcados na aventura da m/paternidade)

apesar de todos os caminhos sinuosos por onde têm passado, admiro-vos por serem duas pessoas corajosas, bonitas, grandes! ajudam-me a relativizar as agruras e fazem-me bem aos abdominais cada vez que estou convosco, por causa do riso que provocam. obrigada por existirem, mesmo vos veja pouco.

Tuesday, November 06, 2007

de Lavoisier a Cronos

já rezo ao Lavoisier há muito tempo mas ele ainda não atendeu as minhas preces.
acho que é porque me cinjo ao tempo curto da mudança e não consigo consciencializar o tempo longo da transformação da matéria.
por isso, apesar de o livro de mitologia clássica dizer sobre Cronos"deus do tempo", sem mais explicações, vou tentar rezar a este.

Friday, November 02, 2007

Lavoisier

Deus da transformação eterna de toda a matéria. Disse: "na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
(amen)

Wednesday, October 24, 2007

afinal abrir a caixa de Pandora não tem de ser mau

Esperança
1. uma divindade antiga
2. um espírito bom deixado na caixa de Pandora depois de aberta

Tuesday, October 23, 2007

Eco

Uma das filhas de Gaia. Foi uma das ajudantes de Hera e confidente das amantes de Zeus. Foi impedida de falar pela invejosa Hera.
Amante de Pan e de Narciso. Porque Narciso não retribuía o seu amor, esvaiu-se, transformando-se numa pedra que continua a reter o poder da fala.

Saturday, October 20, 2007

Safe


Um filme aparentemente sobre uma doença causada pela agressividade do ambiente urbano, Safe pode dizer muito a quem se encontra numa situação de ilusão de ter encontrado uma resposta para as suas perguntas difíceis.
Depois de ver este filme (foi a minha irmã que mo aconselhou) percebi melhor que é preferível desconfiar de todas as ideologias, filosofias e/ou religiões que respondem a tudo o que é difícil responder.

Prémio muda a forma mas não melhora o conteúdo

Pedro Mexia: "sempre que estou descontente com um texto, mudo o tipo de letra"
(hoje, no Público)

Friday, October 19, 2007

Quimera

Um monstro que respira fogo com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Foi vencida por Bellerophon. De acordo com Hesiod, a Quimera era filha de Hidra, mas outros dize que é filha de Tifon e de Equidna.
Hidra - serpente de nove cabeças
Tifon (também Tifeu) - o filho mais novo de Gaia e o gigante mais monstruoso
Equdna - metade mulher metade serpente. Alguns dizem que foi mãe da Esfinge; outros dizem que foi mãe de Quimera.

Thursday, October 18, 2007

Durga - por estes dias, a deusa por excelência


Deusa hindu, durga quer dizer em sânscrito a inacessível. É a mãe de Ganesh, de Saraswati e de Lakshmi.

É a personificação máxima da energia feminina e criativa shakti.
As suas montadas mais comuns são o leão e o tigre, mas dentre algumas das suas manifestações podemos ver montadas de cabra, de galo, de crocodilo, de burro, entre outras.

Na primeira metade do último mês do calendário hindu (que é lunar), durga é adorada nas suas diversas manifestações. Desde a lua nova até um gordo crescente. Nos primeiros nove dias dessa metade de mês (que este ano calha agora) a melhor forma de agradar a deusa é dançando e cantando em volta de um seu altar.

E é melhor agradar a deusa. Pelo sim, pelo não.

Wednesday, October 17, 2007

Etna - ninfa siciliana e Vulcão, o ferreiro

O monte Etna foi assim chamado devido a esta ninfa siciliana. Zeus aprisioou os gigantes debaixo desta montanha. Vulcão tem ali a sua oficina.
Vulcão - o nome romano para o deus do fogo. Estabeleceu uma grande fundição no coração do monte Etna, em parceria com os Ciclopes.

Tuesday, October 16, 2007

Bellerophon

Neto de Sisyphus. Filho de Glaucus e Eurímedes. Um dos sete grandes destruidores de monstros. Venceu a Quimera. Tentou voar até ao firmamento no cavalo alado Pégaso e caiu.

Monday, October 15, 2007

where do you go when you're lonely?
where do you go when you're blue?

Friday, September 28, 2007

libélula vermelha - contributo

libélula no parque nacional da malásia

se deus existe ele dá mesmo nozes a quem não tem dentes.
assim sendo, pode ser que escreva mesmo a direito por linhas tortas.

Wednesday, September 12, 2007

do coração para cima

o meu pai viu o funeral do Pavarotti na televisão, incitando os demais presentes em casa a ver também.habituada à sua forma de sentir as coisas, não estranhei o ar atento, como quem procura decifrar um anagrama, à procura dos esgares de cada pessoa presente na igreja, quase sentindo como se ali estivesse.

na missa do funeral do Pavarotti, cantada, diga-se de passagem (daí o interesse particular do meu melómano progenitor), os presentes volta e meia batiam palmas prolongadamente, à espera que o artista ouvisse (era bom não era?).

o Pavarotti foi uma vez chamado ao palco cento e trinta e tal vezes depois da actuação, o que se tornou um recorde do Guiness. O Pavarotti, contou o meu pai, cantava de ouvido, não aprendeu música, mexia-se apenas do coração para cima, incluindo, note-se, todos os músculos da cara, em concentração absoluta no seu precioso instrumento (do coração para cima).

quando a sua voz já começava a ser uma sombra do que era nos seus tempos áureos, dedicou-se então a causas que não me atrevo a questionar a partir dos meus cantinhos burgueses (seja da escrivaninha limpa a óleo de cedro, seja do gabinete com net rápida) .

ao gosto das ligações improváveis entre pessoas, entre dos corações para cima, o Pavarotti É amigo do Bono. O Bono, por sua vez - à semelhança do que o cantor lírico representa para o meu pai - cataliza memórias de concertos (vistos e sobretudo não vistos).

resumindo e concluindo, assumindo uma ligação improvável entre estes factos, a voz é uma coisa importante, que no caso do Pavarotti (um brinde em memória) e do Bono (um brinde à sua vida) fica guardada em milhões de cópias.

Wednesday, September 05, 2007

11 de Agosto de 2007,Parque Nacional, Malásia

tudo sobre sanguessugas


a foto não é minha porque estava a chover de mais para tirar fotos. Mas isto é uma sanguessuga pequenina, que não consegue evitar pegar-se às peles dos animais que encontra para poder crescer.

a sanguessuga tem duas bocas - uma em cada extremidade do corpo que é para quando anda (ou melhor, trepa), experimentar chupar o sítio onde se agarou a ver se tem sangue.
Se ela apanha uma bota, trepa até à meia e depois à perna.
Se a pessoa - que pensa ser precavida - leva calças, a sanguessuga trepa até encontrar pele, isto é, até à barriga, se tiver uma daquelas t-shirts de gaja que quando a gente se estica, aparece o umbigo;
até ao sovaco, se a mesma t-shirt de gaja for de alças;
até ao peito, se não levarmos sutiã porque ficou encharcado da caminhada do dia anterior;
até às costas, como já entrou na t-shirt não há nada a fazer;
até ao ninho da orelha, para gáudio dos animais da floresta que eu não vi mas que por lá andavam, pois ouviram uma nova espécie a dar rédeas às cordas vocais como quem quer assustar a menina pegajosa que acabou de achar uma mini-veia dentro da orelha.

as saguessugas, pode-se ver na net, não se devem arrancar da pele. Devem ser afastadas através de, por exemplo, a ponta de um cigarro aceso ou sal. 1. Claro que a malta nas caminhadas está mesmo a pensar levar um cigarrinho e 2. com a chuva que estava a cair era impossível fazer alguma coisa que não fosse andar para a frente para acabar com o trilho de uma vez por todas.

Thursday, July 19, 2007


Um poeta resolveu editar os seus poemas numa antologia. Na aldeia onde ele nasceu, que é muito longe e que fica para lá de uma pequena cidade muito longe daqui, cresceu um girassol de dimensões gigantescas. Estas duas notícias apareceram no mesmo jornal em secções diferentes.

Friday, July 13, 2007

a barriga da joana

a barriga da joana está enorme. quando encostei o ouvido, ouvi um rio a passar por pedrinhas. estaria a barriga a sonhar? ou a gente quando ouve uma barriga lembra-se de coisas semelhantes às que as crianças dizem quando vêem a lua?

Wednesday, June 27, 2007

o boxeur


na semana passada passou por aqui, iscte, o Wacquant. assim tratado parece ser o colega do lado, mas é professor conceituado em sociologia urbana.

no final dos anos 80 decidiu que, para estudar melhor o gueto em Chicago, se inscreveria numa academia de boxe. assim o fez e, desses anos de experiência de boxeur quase profissional resultou um excelente documento etnográfico chamado "o corpo e a alma".

na semana passada vi o magrinho Wacquant, inimaginável como boxeur, se não fossem as fotos como a que aqui trago.

terra a terra, muito acessível (não deviam ser todos assim nas universidades, recheadas como rissóis, de narizes levantados?), apresentou uma comunicação, que não pude ver, sobre a difusão do conhecimento etnográfico. Agora vou à procura da gravação, uma vez que a sua comunicação foi produto de umas notas rabiscadas na noite anterior. Pode ser que ele publique algo sobre isso.

entretato, releio artigos seus sobre o conceito de gueto. quem dá o corpo e a alma terá reflexões ajustadas.

Friday, May 18, 2007


Monday, April 23, 2007

no pacífico

é tão incerto estares em qualquer lado e no entanto era tão importante que estivesses. vou fazer de conta que atravessas o pacífico numa jangada. demoraste a partir. a âncora talvez estivesse presa. agora está uma data de gente no porto, ainda não atravessaste a linha do horizonte, as pessoas não se vão embora enquanto não atravessares. como não levas remos vens e vais ao sabor das marés, e olhas também o cais. o céu e o mar teimam em rimar com os teus olhos e o sol com o teu cabelo. é claro que vais de azul! no porto formamos uma massa de gente desfocada, acenando ou deixando os braços ao lado do corpo.

Wednesday, March 28, 2007

líderes que chucham no dedo (mesmo)

cantina: 13:00h. há um grupo de raparigas à minha frente. uma delas (a) argumenta com outra (b). c, d e e observam e aprovam os argumentos de a. a é bonita, gesticula largamente e faz caretas agressivas. é claramente a chefe daquele grupo. em breve, b desiste e começa agora a sorrir de forma agonística [sinal de submissão para "acalmar as hostes" posterior à agressão doutro].
noutra fileira de mesas deixei por momentos de observar este espectáculo, para me concentrar no empadão de arroz com (poucos) legumes. mas volto a olhar:
agora a chucha no dedo (!!!!!!!) e faz-se festas em roda do nariz com a mesma mão, como uma criança que vai adormecer, e que não sabe que os seus gestos inatos um dia desaparecerão. depois da refeição, a está simplesmente com sono, e repete o seu gesto inesperado (inúmeras vezes, mesmo depois de eu me beliscar e abrir e fechar os olhos com força) com a mesma segurança de quem fuma um cigarro. b, c, d e e agem como quem já conhece este gesto. cada uma delas tem gestos de sono aceites (bocejam, enrolam caracois no cabelo, esfregam os olhos, sugerem um café). só a líder pode chuchar no dedo.

Thursday, March 15, 2007

Era uma vez uma velha muito velha

Pensava que estas pessoas só eram verdadeiras nos contos fantásticos. Era uma velha muito velha a andar muito depressa. Com umas olheiras muito grandes e covadas, como se de cada lado estivesse pendurado um quilo durante muito tempo. E tinha também os beiços caídos, muito caídos, como as olheiras. A sua expressão parecia ter parado num tempo em que ficou triste, muitos anos atrás. Passou por mim na avenida de Berna. Talvez fosse a caminho da ilustração de um livro.

Friday, March 09, 2007

disfarces

Como vivem os que andam sempre disfarçados?

Podemos andar sempre disfarçados?

Como vivem as pessoas com menos disfarces?

Friday, February 09, 2007

Em homenagem ao O'Neill, tímido desenfreado, e para os amigos, em homenagem também

AMIGO

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

Wednesday, February 07, 2007


SIM


Quando houver um referendo sobre quando começa a vida ou sobre se somos a favor do aborto ou não, logo haverá outra discussão. Como agora o referendo é sobre a despenalização das mulheres que abortam até às 10 semanas, para mim é demasiado evidente.

Porquê?
1. porque sou pela maternidade (e paternidade) responsáveis
2.porque actualmente há clínicas a fechar as suas portas às 19h e a fazer abortos em horário pós-laboral, sem pagar impostos e a receber balúrdios
3. porque a mulher que aborta num estabelecimento legal de saúde tem de certeza mais acesso ao planeamento familiar do que quem aborta clandestinamente
4.porque era escusado tanto aborto cirúrgico. se as mulheres se sentissem mais à vontade para falar com um médico mais cedo...
5. porque actualmente, quando uma mulher aborta por razões naturais, não tem acesso a todos os medicamentos exsitentes, que teria se o aborto estivesse legalizado. e ainda por cima, muitas dessas mulheres são tratadas com desfiança ao chegar ao hospital com sequelas. nos países onde o aborto está legalizado, estã disponíveis determinados princípios químicos que em Portugal não existem devido à criminalização do aborto (a pílula abortiva, segura até às 7 semanas e sem sequelas como aqueles comprimidos para o estômago, o Citotec)

mais razões:
razão cristã: porque não sou ninguém para julgar a outra
razão egoísta: porque pode acontecer-me a mim e não quero que haja a possibilidade de haver um parvalhão qualquer que me faça ir fazer um exame gineclógico à força, depois de abortar, por achar que eu terei feito um crime (é que apesar de não haver mulheres que abortaram na prisão, há dezenas que foram sujeitas a isto antes da "abslvição" no tribunal).

e vou votar porquê?
1. porque sou teimosa em acreditar na democracia e gosto mesmo de votar, desde que tenho direito. imagino sempre quando as mulheres não tinham direito a votar. se vivesse nesse tempo, seria sufragista de certeza.
2. porque participei na recolha de assinaturas para a realização deste segundo referendo. foi uma experiência extraordinária falar com tanta gente na rua, e perceber as diversas vozes e as várias opiniões. e que estranhei ao princípio que há mais gente jovem do que velha, contra.
3. porque gostava que ninguém tivesse de abortar, mas já que acontece, que as mulheres que o fazem, que tenham condições iguais para todas à partida.

Monday, February 05, 2007

optimismo

sempre que vejo uma gaivota em entre campos não sei se hei-de pensar que anda perdida ou que anda em busca. de qualquer forma, é uma esperança de mar. aberto, azul, ruidoso, radioso.

Monday, January 29, 2007

Sari


O sari. O sari é a roupa mais democrática que conheço relativamente à beleza das mulheres. O sari fica bem a todas as mulheres, magras, gordas, altas, baixas, cuzudas e mamalhudas. Dá uma graça especial ao andar. O sari são seis metros de tecido fluído, às vezes algodão, às vezes seda, às vezes acrílico. As modas renovam-se de seis em seis meses. As solteiras não usam praticamente sari. As casadas usam saris coloridos, as viúvas usam saris de cores claras. Ficam sempre graciosas. Velhas, novas, mães, tias, avós, primas e cunhadas. De cabelo curto ou comprido; de narizes grandes ou discretos; de olhos claros ou escuros; com ou sem joanetes; com ou sem pneus; pernas curtas ou de girafa, e por aí fora.
Estender um sari ao sol é como estender um lençol com mais do dobro do comprimento de um lençol normal. E seca num instante. Tem de se ter cuidado para não bater nas janelas do vizinho de baixo, a menos que se queira dizer-lhe alguma coisa. O sari não envelhece como as mulheres que o vestem. Passam as modas e podemos, com ele, fazer capas para almofadas, colchas, estojos, e por aí fora.
O sari, por outro lado, desliza. É sensual. E por aí fora.

Tuesday, January 09, 2007

Friday, January 05, 2007

impressões do ski em catadupa: desafio ultrapassado


os skis são pesados, as botas fazem mal às varizes, os mecanismos de acesso às pistas são terroríficos, a aprendizagem (minha) foi lenta, aos poucos comecei a gostar, depois de muita birra e dores nas pernas e medo das descidas.
e pensar volta e meia que o preço de uma semana dava para estar uma semana em cabo-verde, e que a paisagem dos pirinéus dá vontade de tirar os skis e pôr-me a passear.

talvez volte, talvez volte, vencido o desafio de ultrapassar o medo.

coisas fixes: rir a bandeiras despregadas das minhas próprias quedas; contabilização das nódoas negras; pequenos-almoços enooormes, banhos de imersão todos os dias; encontrar as semelhanças entre a estância de ski e as praias do jet7 e, last but not least, no 5º dia de formação já descia a dizer yuppiiii e não a dizer aaaaahhhhhh

obrigada a quem me levou lá. foi pena não ter nevado

Wednesday, December 20, 2006

segredos

há dias deparei-me com informações que não posso divulgar. foram-me reveladas em entrevista, já em off por casualidade(?), e tinham a ver com pequenos poderes que se relacionam com pouca gente, mas cada pessoa é uma pessoa na minha modesta opinião, e as opções tomadas podem transformar algumas vidas para sempre (ou mantê-las irremediavelmente na mesma).

pronto. e agora que já revelei o mais importante do segredo - a sua substância e não a sua forma (essa é que não dá mesmo), junto-me a uma reflexão sobre os segredos que ouvi ontem pela boca da Pilar (que antes de ser mulher do Saramago já era uma grande mulher, uma grande pessoa, whatever) e que tem a ver com os segredos.
a avó dela dizia, quando uma mulher perde a honra, ganha liberdade. isto era muito à frente para a avó dela dizer, mas pelos vistos disse, e parece-me bem. e isto tem a ver com os segredos, porque os segredos castram a possibilidade de nos livrarmos do que eles ocultam, ou de superarmos o problema que o segredo guarda.

no contexto em que falava, Pilar relacionou com os segredos/não segredos do Volver.
mas no contexto destes dias, apetece-me dizer que enquanto há segredo do Pai Natal para as crianças, vamos atrasando a sua descoberta da vida. de qualquer maneira, mudando de tema, se não fossem as crianças este Natal (e os outros, na verdade) não tinha graça nenhuma.

Wednesday, December 06, 2006

144 para quem tem medo de estar em casa

Cada um@ tem o seu medo: medo dos outros automobilistas; medo de atropelar alguém; medo da polícia; medo dos ladrões; medo dos terramotos; medo dos incêndios; medo dos cães; medo das aranhas; medos sociais como estar no meio de demasiada gente; medo de encarar determinadas pessoas; medo de não ter dinheiro para pagar as contas; medo de engravidar; medo de adoecer; medo da morte; medo de levar um tiro;
mas... medo de estar em casa?

isto é a propósito - tardio - do dia 25 de Novembro, que é dia nacional de luta contra a violência e porque todo/as, quase de certeza, conhecemos alguém, homem ou mulher, vítima de violência doméstica (estima-se que 1/3 das mulheres são vítimas de violência doméstica e não se sabe que percentagem de homens serão vítimas do mesmo)

Monday, December 04, 2006

não há nada como a banda


A banda
Chico Buarque 1966

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Pra ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

Monday, November 27, 2006

Lençóis brancos

Gostava de te dizer as palavras certas
(como se houvesse uma única a fazer sentido agora)
Gostava de te deixar em paz
Sem que ficasses só
Gostava de to trazer de volta
Gostava tanto!

Vento, vento, mais vento
E chuva, mais chuva.
Nem o vento leva daqui o pranto
Nem a chuva lava-te aqui a cara.
Dizem-te que o tempo secará as lágrimas
(como se elas estivessem penduradas na corda da roupa!)
Mentem-te!
Nem o tempo, nem o vento.
Mas talvez cada dia procurar
Algo bom do passado
E algo bom no futuro.
E talvez cada dia com gestos iguais…

(Se suspirares entretanto, é a saudade;
Se soluçares, é do ar que retiveste por tanto amar.
Não te rales com suspiros e soluços
Olha os fantasmas com espanto:
Eles poderão trazer-te paz.
Basta sorrir-lhes. Depois de lhes falares
Sem medo, eles voltarão à sua vida
Como lençóis brancos a esvoaçar)

Wednesday, November 22, 2006

a inutilidade da antecipação

ontem, no telejornal havia uma reportagem sobre a ansiedade. não gostei nada, mas ainda assim fiquei a pensar. sempre quis controlar tudo, não de uma forma objectiva, mas por via de superstições meio veladas. antecipar para que não acontecesse ou pelo menos para estar preparada para todas as situações. afinal não resulta (como percebi depois de atender o telefone há 3 semanas atrás). a antecipação é a arrogância de achar que se possui uma qualquer força divina e a sua inutilidade ainda não tem alternativa.

Tuesday, November 14, 2006

feia e mentirosa

a morte, além de ser uma palavra feia, engana-nos. veste-se de surpresa, para dar um ar supersticioso, ou veste-se de lentidão, para dar um ar antigo. a morte é feia e mentirosa. não tem graça absolutamente nenhuma. as suas constantes surpresas são piadas de mau gosto.
a morte devia estar calada quando as pessoas realizam sonhos. respeitar o sonho era mínimo que a morte podia fazer.
a morte mente porque parece querer ensinar alguma coisa, tipo 'dar mais atenção às pequenas coisas da vida', mas no fundo não ensina nada.
a morte gera rancor, descrença, raiva. é preciso um esforço enorme para transformar a raiva, a descrença e o rancor em coisas menos más. e esse esforço enorme envelhece. a morte é cabrona de merda

Wednesday, November 08, 2006

da roca a são vicente

Foram daquele tipo de sucessão de dias que dá vontade de dizer foram os melhores dias da minha vida. Felizmente o hábito de desfrutar da vida e dos espaços que podemos conhecer faz-me ter várias sucessões de dias melhores da vida. Há outros. Apetece-me recordar estes. Foram os primeiros dias de Setembro de 1993. Organizou-se uma actividade de escoteiros para unir, pedalando, o Cabo da Roca ao Cabo de São Vicente. Calcorreámos a costa alentejana, mais perto do mar, na areia molhada, ou em cima das arribas, perto dos chorões e do zimbro. Custava pedalar cerca de 60 kms por dia. Esperávamos pelas estradas ladeadas de eucaliptos para pôr os pneus a render. Levantávamo-nos tarde. Comíamos cada um meio pão alentejano e meio litro de leite. Manteiga ou flora, marmelada. Almoçávamos às 5 da tarde, pelo que pedalávamos inconscientemente na hora do calor. Depois jantávamos a maior parte das vezes já depois da meia noite. Uma vez, ao pé da Zambujeira do Mar, comemos soja com esparguete. Tínhamos andado de porta em porta a pedir condimentos para temperar a insípida soja e esperámos até tarde para cozinhá-la. Acampámos no pinhal, dormindo em estrela à volta da comida que, depois de feita, estava uma verdadeira merda. De manhã, só o Bruno comeu um pouco dos muitos restos do jantar.
Lembro-me dos rapazes hesitarem para ir ao banho, nas praias mais lindas da costa alentejana. As raparigas, quais lontras, aproveitávamos logo a deixa do belo: as conchas, o sol a pôr-se, os cristais de areia ao luar. Eles também eram sensíveis a isso, mas fingiam que não. ou disfarçavam melhor.
Cantávamos o que nos vinha à cabeça. Íamos a ritmos diferentes. Quando os
últimos chegavam ao pé dos primeiros, a impaciência fazia retomar de seguida os pedais. Ficávamos amuados, a brincar. Passava rápido.
Ao chegar a São Vicente, havia uma estrada de terra batida, aos altos e baixos muito acentuados, como a vida. O Bruno ganhou um último impulso e pedalou mais depressa, quase saltando as lombas. São estas pequenas coisas que vão começando a fazer-me voltar a sorrir.

"o bruno foi viver para as montanhas"

como ainda não consigo dizer nada de jeito...

Tuesday, October 24, 2006

Cartas a um ditador


do programa do doc Lisboa:
"O documentário de Inês de Medeiros visita memórias dos anos do salazarismo, dando a palavra a mulheres de diferentes extractos sociais que, com maior ou menor receptividade, tinham sido contactadas para manifestar o seu apoio a Salazar, a pretexto da primeira crise que abalou a ditadura, a campanha do General Humberto Delgado."

o documentário de Inês e Medeiros foi exibido publicamente ontem pela primeira vez no grande auditório da Culturgest, e espero que seja rapidamente passado para o programa do cart geral. entretanto, até dia 28, pode ser visto no Doc Lisboa, sob requisição.
aprendemos um pouco mais sobre um tempo muitas vezes incompreensível para quem nasceu depois, e há temas muito actuais, como a liberdade da mulher... mas só vendo

Monday, October 16, 2006

como os cágados e os ursos




castanhas, maçãs assadas, nozes. botas para a chuva, estendal dentro de casa, chapéu de chuva do chinês. (isto como postulados cosy para o outono instalado)
mas depois há também o metro parado, o trânsito atulhado, os buracos da estrada que molham as pernas dos teimosos peões, mais buzinas, mais alarmes (felizmente há as goteiras como som alternativo, e os saltos altos no metro)
é que começam as coisas a mergulhar na terra, e a ficar lá até depois do frio passar, mas a gente não mergulha na cama, a hibernar, como os cágados e os ursos. porquê? em vez disso tomamos mais café e disfarçamos mais as olheiras.
só mais um postulado cosy: mais cinema - no ecrã grande e no pequeno. o cinema, como a ginástica as drogas e o alcool, leva-nos para longe da vida de todos os dias, é só escolher um destino entre os locais dos enredos. ultimamente escolhi Paris e Havana (mas não aconselho a Cidade Perdida, é bué reaccionário).
resumindo, um episódio da national geographic e o eládio climaco a estender as palavras da locução, num domingo de chuva, a comer maças assadas

Friday, October 13, 2006

quase 100 mil pessoas nas ruas


entre 70 e 100 mil pessoas na manif de ontem pelos direitos dos trabalhadores.
se calhar porque só quem tem alguns direitos - cada vez mais ameaçados - é que ainda (e ainda bem!), consegue lutar.
Viva a não resignação!!
(parafraseando a Sophia) Porque os outros calam mas vós não!

Thursday, September 21, 2006

Wednesday, September 20, 2006

os velhos

Os velhos trazem uma vida toda atrás deles
por isso é que lhes custa andar.
nós, os novos, devíamos querer ser velhos
porque os velhos já aprenderam muito
Os velhos às vezes têm o pensamento confuso.
é natural: já pensaram demasiado na vida.

Os velhos são como as crianças
e não é só por causa das fraldas:
os velhos páram no meio da rua
para olhar para qualquer coisa;
dizem coisas inteligentes
sem ninguém estar à espera
(ou coisas poéticas,
ou coisas consideradas inapropriadas);
admiram-se facilmente;
são gulosos e generosos;
gostam mais dos animais;
e, volta e meia, caem.

Se nos dedicarmos a ouvir os velhos
sem pensar constantemente
quando é que ele se cala ou as coisas que temos para fazer,
ouvimos coisas mais novas do que nós
(ou novas para nós)
e revelam segredos.

Monday, September 04, 2006

alegrias domésticas

uma casa nova leva-nos a desvarios e a sentimentos de satisfação produzidos por coisas que normalmente acharíamos espatafúrdias.
se não, como ficar tão contente porque já se tem uma varinha mágica, ou triste porque se tem de trocar a aparelhagem nova por outra porque a rádio não funciona?

uma das maiores alegrias domésticas da actualidade é, depois de trazer os móveis Ikea para casa, arrumadinhos nos cartões, decobrir que não faltam peças para bem-montar os móveis e, mais do que isso, conseguir montá-los sem grandes dificuldades.

uma outra alegria doméstica é já ter uma escumadeira, um saca-rolhas, um ralador.

as listas do que falta e do que já há parecem intermináveis, como se encher uma casa não fosse uma das coisas mais rápidas do mundo.

Thursday, August 03, 2006

Bergen


Bergen, na costa ocidental da noruega, foi a primeira capital do pais. cheia de cor e surpreeendentemente solarenga (esta 3/4 do ano a chover aqui), mergulhar no mar do norte e bom!
As sandes de camarao, frutos do mar, salmao fumado e caviar sao um must, para degustar junto ao mercado a olhar para os fiords.
E depois, na pousada mais barata da cidade, conhecer uma pequena biork catalä a cantar venus as a boy ao piano, tornou a curta visita a esta cidade ainda melhor.

Thursday, July 20, 2006

a linha continua


comboios a apitar, horários, tabelas, estações. moedas diferentes, comidas e línguas diferentes.
gente diferente, noites e dias diferentes. e sobretudo paisagens diferentes, muitas paisagens, e a promessa de uns bungalowzinhos no meio das florestas.
como estas férias vão ser mais ao sabor dos desejos do que das tabelas de horarios, só sei que vou para norte, muito a norte, e que vou brincar, nas noites quase brancas, com os longos momentos entre o fechar dos olhos e o sono proundo.

Friday, July 14, 2006

uns morrem outros nascem

e às vezes demora-se tanto tempo a morrer como a nascer

Tuesday, July 04, 2006

direitos e escolhas

decidir é difícil e no entanto é a nossa melhor liberdade, a seguir à do pensamento. há direitos que existem mas que não estão postos em prática e que atrasam as nossas escolhas. o fácil é não decidir. por isso, os direitos não postos em prática por quem ter o poder de legislar e de os executar, atrasam o poder de decisão, ou a necessidade de decidir.

pensamentos baralhados com o direito à habitação e o direito a escolher abortar em pano de fundo

Wednesday, June 21, 2006

um dia a barraca vem abaixo, no outro dia algures um quarto numa casa de alguém mais ou menos próximo

as medidas da propriedade privada, das burocracias, do dinheiro, e das verbas - diametralmente opostas às medidas dos quotidianos. como é que se poderiam entender?

Tuesday, June 20, 2006

paris, paris

Paris é romântica, universitária, bela, plural, contraditória. e grande, e apressada.

Saturday, May 06, 2006

Valstar Barbie, de Claude Levêque 2003

finalmente fui passear. escolhi o pompidou. no meio de alguns artistas mimados que nao consigo perceber, e doutros, reconheciveis e que causam mesmo conforto, descobri outros que nao conhecia, e que gostei.

ao longo da exposiçao principal, ouve-se uma valsa. finalmente entro na sala donde vem a musica: ampla, quase sem nada, um ambiente rosa, um sapato de salto alto rosa enorme, ao fundo. um elogio a vaidade feminina? sai de la quase com vontade de calçar uns assim.

Friday, May 05, 2006

mas muita coisa esta mal na mesma


sempre que saio do quadradinho com praia e sol para estudar nalgum pais 'da Europa' acontecem-me algumas sensaçoes que, no inicio eram inesperadas e que, agora, ja me estou a habituar.
a primeira é ficar contente com a europa e as possibilidades que da (aos europeus, claro; é pena nao dar a todos);
a segunda é ficar contente com o Bill Gates (é pena ser um monopolio, mas é bom muita gente ter um sistema iguam para comunicar melhor);
a terceira é perceber que a ideia que os portugueses temos de que no resto da europa os preços sao iguais mas os salarios sao muito maiores é mentira, porque as coisas sao sempre mais caras, mesmo nos supermercados, e basta olhar para os preços nos cafes. so para dar um exemplo, o cafe de maquina de moedas na biblioteca nacional é 1 euro e 45!!!! um expresso e, no minimo, 90 centimos, ja para nao falar de Londres...
a quarta é perceber que os academicos estrangeiros sao tao bons como os nossos, ha uns bons, outros maus, mas chez nous, quando vezm um estrangeiro, é sempre uma festa, como se estivéssemos rodeados de burros. chez nous, estamos no tempo do Eça, com um deslumbramento face ao estrangeiro.
de qualquer maneira, volto ao titulo deste post...

Wednesday, May 03, 2006

afrique physique


nao sei se é pelos bons ou pelos maus motivos, if you know what i mean, mas tenho um mapa de Africa na casa onde estou (que não é este da imagem). alias, tenho a casa recheada de estatuetas africanas, que acompanham na perfeiçao o imaginario de Luegi, do Pepetela, que ando a ler ha meses. parece-me que agora vou acaba-lo depressa.

o mapa, que ocupa uma boa parte da parede da sala, nao tem ainda fronteiras - é um mapa fisico, antigo, que realça os rios, lagos, desertos e as savanas. no canto inferior direito, esta um mapa de França, à escala do mapa grande. França parece bem pequenina. e este mapa contrasta com os que conhecemos do estado novo, em que o mapa de Portugal aparecia tao grande como o dos paises colonizados. e contrasta tambem com os mapas africanos das fronteiras a régua e esquadro.

este mapa sem fronteiras, talvez apele a um mito do bom selvagam, que apenas divide territorios consoante o tipo de produçao e de acordo com as bacias hidrograficas. e talvez se oponha ao das fronteiras, que parecem dizer tudo do que se passa hoje em Africa. mas o quadradinho pequenino onde esta França - à escala - lembra mais a imigraçao como feedback do colonialismo por um lado e, por outro, os debates sobre coisas dispares aparentemente, como a integraçao, a pobreza no mundo, 'etc'

Tuesday, May 02, 2006

ja cheguei

ja cheguei a paris. estou numa casa so para mim, pequenina como eu. nao tem tv felizmente, para nao haver tentacoes, e tem radio e computqdor com net e tudo, sempre ligada! vai-me custar a habituar a este teclado, ou melhor, a reabituar - no setimo e oitavo anos aprendi a utilizar o teclado azert em vez do qwert (primeiras letras da primeira linha de letras do teclado).

Friday, April 28, 2006

já tenho gás


1003 euros depois, já tenho gás.
eu sou muito papalva, por isso, acho que é necessário guardar aqui algumas indicações para não me esquecer se alguém precisar.
primeiro que tudo: perguntar aos proprietários anteriores se está tudo bem com o gás ou se estão previstas obras no prédio incluindo a coluna de gás. neste segundo caso, é bom apenas mudar o contrato do gás quando as obras forem feitas e no caso de o anterior proprietário o permitir.
na primeira vistoria, se houver fugas: perguntar que tipo de fuga é, se é do contador para dentro ou do contador para fora ou ambas, para poder explicar bem ao canalizador que for lá fazer a obra, pois nem sempre os canalizadores sabem ler os valores e os gatafunhos explicativos da Lisboa gás no relatório que fazem... porque se não, pode dar-se o caso de o canalizador ver apenas a fuga para dentro, uma vez que não é suposto que mexa no selo (do contador para fora) e às vezes, não vê essa fuga. o ideal seria que o canalizador estivesse presente no acto da vistoria. o problema é que a vistoria faz-se em intervalos de 2 horas, e o canalizador não está duas horas plantado numa casa à espera da vistoria, a menos que lhe paguem.
Tentar perceber se é mesmo preciso fazer uma obra ou se se pode mandar colocarum produto na tubagem, que fica muito mais barato, embora seja provisório (disseram-me, infelizmente depois de eu ter feito as obras, que custa cerca de 270 €).
Se a obra completa for mesmo necessária, fica em cerca de 800 a 900€. há que contar com pelo menos 2 vistorias no caso de fuga. cada vistoria são 34€, pagos a uma empresa subvencionada pela Lisboa gás. há ainda que contar com o contrato da Lisboa gás, que são 50€, que surgem na primeira conta de gás.
Apontamento ecológico: quando a Lisboa gás fizer o teste de CO, há que pedir para abrir a torneira da banheira em vez da torneira do lava loiças, uma vez que a água da banheira sempre se pode utilizar depois (o teste demora 10 longos minutos)
Há que contar, finalmente, com o paternalismo e possíveis tentativas de enganos próprios da dominação masculina e, por isso, fazer uma sessãozinha de ioga antes das vistorias.

Wednesday, April 12, 2006

não lugar


finalmente percebo bem o que é um não lugar. depois de discordar com augé, quando exemplifica os não lugares com aeroportos, começo a achar, mais de 10 anos depois, que os não lugares sempre existem.

a realidade:
estou a mudar de casa. fiz mudanças há três dias, para uma casa que escolhi, cujas obras estão a demorar mais do que o previsto. Resumindo, sou uma 'pintora' optimista que acreditava que pintar de branco por cima de cores claras apenas requeria uma demão. Felizmente não sou perfeccionista, e tenho deixado as zonas que pintei com cores bonitas com um ar 'rústico' (leia-se uma demão). entretanto, tenho dormido num quarto quase sem nada, há três dias atulhado, que agora faz eco. estantes vazias de livros, de arquivos, de caixas e de tralhas femininas. o quarto parece maior, mais alto. durmo no colchão, já sem a cama (talvez assim os fantasmas não tenham onde se esconder).

a teoria sobre esta realidade:
os não lugares são espaços que habitamos sem identidades próprias, ou a que lhes retiraram a identidade. são passíveis de encher.

síntese:
o quarto na que já chamo 'casa antiga' é um não lugar. na 'casa nova' está tudo por arrumar. há uma expectativa sem nome, porque espero por coisas que acontecerão à medida da vida da casa.

Tuesday, April 04, 2006

a mãos de Sophia

'Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias'

(talvez os poetas venham ao mundo para os ateus terem como rezar)

Tuesday, March 28, 2006

é qualquer coisa entre isto e isto



na próxima
quinta-feira
vou assinar
a escritura.
aqui vão as
fotos
aproximadas

Friday, March 24, 2006

Tuesday, March 21, 2006

querqusfilia no dia da árvore


quando não tens braços a quem te abraçares, abraça-te a um carvalho. coça-lhe a casca, sente-lhe o cheiro junto ao chão; esmaga uma folha e inspira como se fumasses; deita-te a seu lado olhando para o pouco espaço entre as folhas e deixa-te ficar

Monday, March 13, 2006

primavera de botticelli

presto a minha devoção à primavera

chegou o tempo da manga curta
de arrumar o ventilador de ar quente,
de trazer do mofo as saias
de guardar cachecois, gorros e luvas

chegou o tempo dos cheiros acres
das flores quase a abrir
e com ele, as paixões novas,
por estrear (ou repetir)

a partir de agora
contagens decrescentes para
- os jacarandás, as cerejas, os figos
- os primeiros banhos - de mar, de sol, de lua
- dormir nua, andar descalça na cozinha, não usar secador
- mudar a hora e ser sempre cedo

Wednesday, March 01, 2006

alentejo - o meu ioga



4 dias a descansar os olhos na paisagem substituem a meditação. os coentros, que temperam tudo, valem por mil exercícios de respiração

Tuesday, February 21, 2006

Agostinho da Silva


“Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida, sou do paradoxo que a contém no total” – “Pensamento à Solta”

Thursday, December 29, 2005

este ano tive a melhor prenda de todas

há um nascer do sol quando tiras o elástico do cabelo,
a lua fica cheia quando sorris,
e quando ris parece haver mil crianças às gargalhadas.
quando danças és uma gaivota a brincar com o vento
e quando dormes és um gato enroscado.
mas há mais:
trazes sempre o mundo nos olhos,
não tens medo de sentir,
nunca esperas por sonhar.

Tuesday, November 22, 2005

o concerto

na música podemos estar calados. na música podemos fechar os olhos e descansar a memória nos melhores momentos e nos sítios visitados mais bonitos. podemos estar rodeados de pessoas, mas ninguém nos pergunta nada.
no concerto há o saber que ao lado estão pessoas como nós, que gostam dos mesmos sons. às vezes não sabemos mais nada dessas pessoas.
há dias estive num concerto onde a música era parecida com a música que aparece nos sonhos. as luzes parece que foram estudadas para isso.
foi tudo um sonho, mesmo. chovia cântaros lá fora. o lá dentro era a sala mais linda (uma sala de sonho para qualquer artista), composta como dantes quando ali havia circo. e no lá dentro era como estar num quarto escuro, sem jogo. só para estar mais perto do silêncio e do sonho.

Friday, October 14, 2005

tempo

o tempo é grande como uma seara a perder de vista
pode até ser pouco tempo
mas parece ser o tempo todo.
por ser grande, o tempo, é quase temível
não se pode abarcar.
só abraçar e apertar como
se o tempo fosse pouco.
mas o tempo diz
que tem o tempo todo
sorri e diz
para não gastar o tempo todo de uma vez.

diante de tanto tempo
ficamos sem rede
e sem rédeas

Monday, October 10, 2005

gracias a tu cuerpo d'hoy por haberme esperado
tuve que perderme pa llegar hasta tu lado (bis)

gracias a tus brazos d'hoy por haberme alcanzado
tuve que alejarme pa llegar hasta tu lado (bis)

gracias a tus manos d'hoy por haberme aguantado
tuve que quemarme pa llegar hasta tu lado (bis)

Llasa

Friday, October 07, 2005

Zimler

"Talvez o amor não possa deixar de olhar em frente", Richar Zimler, 2005, Goa ou o Guardião da Aurora":26